terça-feira, 17 de janeiro de 2017

BATALHA DO AMÔNIA: O CAPITULO ESQUECIDO!

SERINGAL MINAS GERIAS - HOJE MUNICÍPIO DE MARECHAL THAUMATURGO NOS IDOS DE 1908
A jovem municipalidade de Marechal Thaumaturgo foi resultado de grandes e inúmeras lutas, conflitos e até batalha armada. A mais conhecida dela – motivo de orgulho e glória para todos os thaumaturguenses, foi travada nos longínquos dias 03, 04 e 05 de novembro de 1904, contra militares peruanos instalados na Foz do Rio Amônia (Seringal Minas Gerais), hoje sede de nossa bela cidade.
Foi dessa batalha armada e do sangue derramado de brasileiros e peruanos que nossa querida municipalidade surgiu 88 (oitenta e oito) anos depois, no dia 28 de Abril de 1992, através do decreto de Nº. 1029 (assinado pelo o Governador Edmundo Pinto, um mês antes de seu assassinato) a partir de um desmembramento do município de Cruzeiro do Sul.
Sim...! Lutamos para ser acreano assim como o Acre lutou para ser brasileiro! E dessa luta armada se fala muito da bravura de audazes militares e seringueiros brasileiros que pegaram em armas para dar cerco ao Seringal Minas Gerais (hoje Município de Marechal Thaumaturgo) rechaçando o elemento estrangeiro ali dominante.
Dentre muitos bravos guerreiros estão o Capitão Francisco D’Ávila e Silva comandante dos 40 (quarenta) praças brasileiros no histórico episódio – um dos nossos ancestrais que desbravaram e marcaram com sangue o limite do nosso Brasil.
Sua contribuição foi grande e inestimável para formação da nossa pacifica e bela municipalidade na qual residem atualmente 17.401 thaumaturguenses orgulhosos da história de lutas e conquistas desse canto e recanto de Brasil.
Mas o tempo e até a própria história esqueceu-se do bravo e audaz Capitão Francisco D’Ávila. Não há registro de monumentos públicos com seu nome, e, sua história é até desconhecida de muitos os Thaumaturguenses.
Como o objetivo do Blog THAUMATURGO NEWS é Resgatar, Vivenciar, Registrar e Informar a história e as personalidades desse encantador pedaço de Brasil; trago-lhes a importante participação do Capitão Francisco D’Ávila e Silva na conquista do nosso território – do território do hoje Município de Marechal Thaumaturgo!

PERUANOS IGNORAM O TRATADO DE MODUS VIVENDI.

Por dever de justiça o Destacamento Thaumaturgo de Azevedo deveria se chamar Capitão Francisco d’Ávila e Silva como justo tributo ao Comandante da tropa que investiu contra o Posto Militar e aduaneiro peruano ilegalmente edificado à Foz do Amônia (antigo Seringal Minas Gerias e atual Município de Marechal Thaumaturgo).
O Coronel Thaumaturgo de Azevedo, estacionado na altura do Moa, atual Cruzeiro do Sul, apesar de envidar todos os esforços diplomáticos possíveis não conseguiu impedir que os peruanos continuassem a cobrar impostos e obrigassem as embarcações brasileiras a substituir a Bandeira Nacional pelo pavilhão inca na passagem pelo Rio Amônia, confluência com o Rio Juruá.
Thaumaturgo decide dar um basta às estripulias peruanas instalando um Posto Fiscal do Ministério da Fazenda no Foz do Rio Amônia – Seringal Minas Gerais, e para isso determinou que o Capitão d’Ávila e Silva, acompanhado de um Alferes e 50 (cinquenta) Praças armadas sem ostentação de força, empossasse os agentes financeiros do Brasil no hoje Município de Marechal Thaumaturgo.
Chegando à Foz do Amônia, o Capitão D’Ávila notificou oficialmente ao Comissário peruano Ramirez Hurtado os princípios acordados no “modus vivendi” de comum acordo entre os dois países. Ramirez Hurtado alegou que ignorava os termos acordados entre Brasil e Peru, mas comprometeu-se a não mais cobrar impostos dos nacionais nem ordenar o arreamento da Bandeira Brasileira de nossas embarcações, como vinha fazendo até então.
As ordens de Thaumaturgo eram muito específicas, D’Ávila deveria tentar, por todos os meios pacíficos possíveis, fazer cumprir o acordo binacional. Caso os peruanos não concordassem, o Capitão Ávila estava autorizado a empregar a força e instalar o Posto Fiscal do Ministério da Fazenda na Foz do Amônia (Seringal Minas Gerais), cuja jurisdição se estenderia até à Foz do Breu, em território já reconhecido como brasileiro pelo Peru, no “modus vivendi”.
Tão logo Ávila retornou para o Moa, os peruanos recomeçaram a importunar os brasileiros cobrando impostos e o hasteamento de sua bandeira nas embarcações brasileiras. Thaumaturgo determinou, então, ao Capitão D’Ávila que retornasse a Foz do RioAmônia– Seringal Minas Gerais para dar um fim definitivo aos desmandos peruanos.

CAPITÃO FRANCISCO D’ÁVILA E SILVA: O COMANDANTE DA BATALHA DO AMÔNIA.

“Com a coragem de seus ancestrais - Ao lutar se mostraram viris - Desbravando e marcando com sangue - Os limites do nosso Brasil”. (Estrofe do Hino de Marechal Thaumaturgo).

No dia 27 (vinte e sete) de Outubro de 1904, o Navio Contreiras Moa zarpou de Cruzeiro do Sul, sede do Governo do Departamento do Alto-Juruá. No quinto dia de viagem, o Capitão Ávila recebeu aviso de que os peruanos, ao saberem que o Prefeito Thaumaturgo de Azevedo mandara instituir um Posto Fiscal no Amônia – Seringal Minas Gerais, estavam cavando trincheiras e erguendo fortificações para resistir.
Ávila acompanhado pelas 40 (quarenta) praças restantes, embrenhou-se na mata em manobra estratégica para evitar a passagem em frente ao acampamento peruano e atingir o Seringal Mississipi Novo, acima da Foz do Amônia.
O Capitão Ávila reforçou seu efetivo com alguns seringueiros, abriu diversas picadas, uma delas até a frente da força peruana e mandou seguir 20 (vinte) praças, sob o comando do Furriel José Rodrigues da Fonseca e 30 (trinta) civis dirigidos pelo ex-aluno da Escola Militar Oséias Cardoso, a fim de tomarem posição à esquerda e à retaguarda do Posto peruano, enquanto outras 6 (seis) praças e 8 (oito) civis iam ocupar uma trincheira em Vila Martins(margem direita do Juruá, defronte do sítio dos peruanos). Mais 16 (dezesseis) praças e 10 (dez) civis deslocaram-se por outras frentes de ataque na proximidades do Minas Gerais, que se localiza um pouco abaixo do Foz do Amônia.
A disposição do terreno do acampamento peruano era boa para uma defesa militar. Estendia-se numa área de dois quilômetros de extensão por dois de largo, no ângulo formado pelo encontro do Amônia com o Juruá. Uma rua, com várias casas de madeira entre as quais se destacava o Quartel, seguia, a uma distância de 50 (cinquenta) metros, as margens do Rio captador, onde foram abertas inúmeras trincheiras para a defesa do Porto. À beira do Amônia, em terreno elevado, existiam outras trincheiras em forma de quadrilátero, sítio excelente para repelir ataques.
Pela madrugada do dia 04 (novembro, 1904), o Capitão Ávila e Silva partiu pelo varadouro, de Mississipi Novo em demanda do Amônia. Pouco depois, pelo Rio, baixaram o Tenente Guapindáia e seus prisioneiros, sendo, no caminho, chamados a fala por um piquete peruano que só os deixou ilesos por interferência do Alferes Ramirez (peruano), usado como refém. Pôde, assim, o grupo desembarcar no Seringal Minas Gerais (margem direita do Amônia e esquerda do Juruá). Há essa hora, o cerco do acampamento peruano estava completo.
O Capitão Ávila, inspecionando as forças acantonadas em Vila Martins, foi o primeiro a receber uma salva de 10 (dez) tiros de fuzil. O negociante Julião Sampaio, que lhe servia de ordenança, caiu gravemente ferido. Mesmo assim, Ávila não quis romper fogo. Redigiu uma nota ao Major Ramirez Hurtado pedindo-lhe para entregar as armas e fazer a retirada do Posto para o Breu. “Quando recebi a resposta que mal acabara de ler partiram das trincheiras peruanas tiros de fuzil, vendo-me, então, forçado a trocar fogo”, atestou o Capitão Ávila.
Rompeu a fuzilaria de todas as linhas”, e durante “todo o dia 04 (novembro, 1904) travou-se um tiroteio cerrado”. No decorrer da noite, os brasileiros consolidaram suas posições e abriram novas trincheiras. O cerco da praça tornava-se mais estreito.
Um piquete de 15 (quinze) civis deslocou-se para Nova Minas, no Rio Amônia, com o objetivo de impedir a vinda de recursos peruanos (o piquete prendeu vários homens que procuravam alcançar Nuevo Iquitos). De manhã, logo que a cerração se esvaiu e o Sol começou a dardejar luz no cenário da luta, os brasileiros avistaram a bandeira branca no mastro do acampamento, em substituição ao estandarte peruano. Um silêncio profundo, depois do toque de alvorada, em ambas as linhas, pairou nos ares do Amônia – o Seringal Minas Gerais, hoje Cidade de Marechal Thaumaturgo, era agora território Acreano e Brasileiro.
Era o fim da batalha: o emissário dos peruanos chegava a trincheira do Capitão Ávila para solicitar armistício. Ao meio-dia foi assinada a Ata de Paz no barracão do Seringal Minas Gerais, pelo Comandante brasileiro e o Major Ramirez Hurtado. No dia seguinte, já de posse do acampamento peruano, o Capitão Ávila recebeu o armamento e a munição. Vinte e quatro horas mais, os vencidos retiraram-se em ubás, viajando pelo Juruá, no rumo do Ucayali.
No dia08 (oito) de Novembro 1904 o Posto Fiscal do Ministério da Fazenda instalava-se na Fozdo Amônia. Apesar de tudo, a saída dos peruanos foi marcada por um traço de cordial respeito, de parte a parte.

VIVA A MEMÓRIA DO CAPITÃO HERÓI, FRANCISCO D’ÁVILA E SILVA!

“Na trincheira da vida e morte - Intrépido saiu vencedor - Fincou a bandeira da história - Com sublime gesto, explendor”.

Ao nos inteirarmos sobre a história do comandante da conquista do nosso território, vemos uma figura humana de serenidade e fidalguia sem igual. E ao analisarmos um de nossos maiores patrimônios imateriais - o Hino de Marechal Thaumaturgo, vemos o nosso primeiro Herói (que assim seja digno que o chamemos) mais lembrado que nunca! Sim! Se a história esqueceu e o tempo levou suas ações e suas conquistas, o compositor de nosso belo hino (Francisco Braz Rodrigues) o eternizou, juntamente com outros audazes heróis (seringueiros e militares), para sempre!
Após saber de seus atos de nobreza e generosidade, como não dizer que... “Com a coragem de seus ancestrais - Ao lutar se mostraram viris - Desbravando e marcando com sangue - Os limites do nosso brasi”lNa trincheira da vida e morte - Intrépido saiu vencedor”! “Envoltos no sol da vitória - Ergue o peito, herói deslumbrado - Espulsando com honra o estrageiro - É obrasil por seus filhos amado”.(...) que essas belas estrofes não fazem referencia o nosso herói Capitão Francisco D’Ávilla e Silva?
Um homem de serenidade e fidalguia sem igual, como já mencionado anterior, que ganhou admiração até de seu adversário de batalha, o Major Ramirez Hurtado; que ao partir para além da Foz do Rio Breu, após derrotado na Batalha do Amônia, deixou uma carta ao nosso Capitão Herói Francisco D’Ávila e Silva:
“Suplico a Usted tenga la bondad de manifestar a sus conciudadanos que antes de partir les agradezco particularmente la distinción de aprecio que conservaran para el que tuvo el honor de ser un año Comisario de este Río, que el de su parte va con la conciencia tranquila porque jamás engañó en sus deliberaciones y actos de justicia. El día 4 de noviembre quedará como testimonio de que los hombres íntegros no saben temer el peligro y que por conseguirte sus distinguidas atenciones serán para mí un grande recuerdo que llevare al seno de mi familia. A Usted mi querido amigo, le ofrezco, como siempre, mi más sincera amistad para que pueda ocuparse con la confianza del verdadero amigo en el Callao Perú. Lleve a sus compañeros en el Moa, mi saludo y manifiésteles que hago por la más estrecha paz en Brasil y Peru”.
"Peço-lhe a gentileza de mostrar seus compatriotas que antes de sair particularmente obrigado pela distinção de apreciação retido para o qual teve a honra de ser um ano Comissário desse rio, o de seu partido ir com a consciência limpa porque ele nunca enganou nas suas deliberações e atos de justiça. A 04 de novembro permanecerá como testemunho de que homens honestos não conhece o medo do perigo e que você irá obter as suas atenções distintas para mim uma grande memória para levá-lo para o seio de minha família. Para você, meu caro amigo, eu lhe oferecer, como sempre, a minha mais sincera amizade para que possa lidar com confiança verdadeiro amigo em Callao Peru. Leve os seus pares em Moa, a minha saudação e manifiésteles que servem para a paz mais estreita no Brasil e no Peru. "
Major Ramirez Hurtado – Carta ao Capitão D’Ávila
Arquivo Histórico do Itamarati.

DISTRITO THAUMATURGO - NOS IDOS DE 1944

Por: Cleudon França.
Registro Fotográfico: Arquivo Pessoal Cleudon França.

Referência Bibliográfica: TOCANTINS, Leandro. Formação Histórica do Acre, Volume I – Brasil – Brasília – Senado Federal, Conselho Editorial, 2001. Com informações também do Blog DESAFIANDO RIO-MAR.

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